segunda-feira, 5 de maio de 2014

O Favelado de hoje e de ontem.

O Favelado de hoje e de ontem.

Desde o meado do Século XIX, o termo "Favelado" é sinônimo de sujeira, violência, falta de educação e tudo mais que tornasse o morador da localidade "inferior" ao "cidadão de bem". Com todos esses sinônimos atrelados a nós moradores fazia com que não nos sentíssemos parte da cidade como cidadãos carioca que somos.

As pessoas classificam e julgam umas as outras segundo seus próprios estereótipos. A história do Morro da Providência, primeira FAVELA do Brasil, ilustra claramente o que está sendo afirmado. Vivemos situações extremamente precárias e adversas nos primórdios da favela. Tudo que se construiu de história e vivência foi por intermédio da luta e perseverança de seus valentes moradores. Muitas coisas ligadas a cultura nasceram dentro do Morro da Providência, composto por oriundos da cultura afro-descendente, berço da primeira escola de samba como a Vizinha Faladeira e do primeiro grupo de pagode, Conjunto Nosso Samba. Além disso, houve também a criação da ala de passos marcados criado no interior da Providência e introduzido nas escolas de samba com grande aceitação. todos esses valores compõe o patrimônio do povo brasileiro, Nessa época não tínhamos nenhuma assistência do poder público para que pudéssemos ter uma mínima esperança de dias melhores. Era lutar, lutar e lutar para continuar à existir mesmo não sendo considerado parte integrante da sociedade de bem.

Atualmente, o favelado de hoje, se apresenta, se aproveita e se utiliza desse estereótipo para se dizer conhecedor da história do morro para poder contá-la aos visitantes que se interessam por nossa história, porém, ela é contada por meio de informações tiradas de livros e artigos espalhados pela internet. Nunca correram, jogaram bola ou andaram de bicicleta no campo de terra batida no alto do morro, campo esse chamado de "Largo"... grandes lembranças desta época tão divertida. Só quem conta melhor essa história com tamanha propriedade é o morador raiz da comunidade, não porque ouviu num seminário ou leu num livro, mas porque viveu na pele tudo que falou. Ser Favelado para se apossar das benesses da história da comunidade e da rica cultura do morro é fácil. Quero ver dividir a dor, o sofrimento e a luta contra tudo isso nesses mais de 117 anos de existência. Isso sem falar na grande luta de resistência contra as covardias que a prefeitura comete com a comunidade querendo reescrever a nossa história. Falar e apresentar a Providência sem tomar parte dessas ações de remoções que estão sendo realizadas em inúmeras casas de tantos moradores, que não só perdem a estrutura da casa, mas também a sua história, suas lembranças e amigos, é se omitir da realidade do Morro por interesse próprio e por egoísmo,  que vai contra tudo o que tanto se viveu no passado, ou seja, a busca  do desenvolvimento do morro de forma coletiva através da unidade e solidariedade de seus moradores.









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