domingo, 22 de fevereiro de 2015

Favela - Berço do samba carioca


O Samba e a Providência.

Após mais este carnaval, vimos ano após ano, o abismo temporal que há entre o carnaval de hoje e o carnaval mais antigo, das décadas de 40 e 50, não só pela modernização nos preparativos e desenvolvimento dos carros e alegorias das escolas de samba, mas também pela falta daqueles que outrora eram os grandes protagonistas desse espetáculo, os moradores das favelas e morros cariocas que tinham na escola de samba a representatividade e o espírito da comunidade, que teve o seu embrião desenvolvido no meio de uma favela.

O carnaval, desfile das escolas de samba, se tornou estritamente comercial, patrocinado e manipulado por aqueles que detém os direitos de transmissão, que usurpam, direcionam e se apropriam deste evento conforme o interesse sem o mínimo de respeito ao povo. Tudo isso com a chancela e permissividade do governo municipal que também se beneficia destas mudanças direta ou indiretamente.

O número de participantes, moradores das favelas, não tem mais nas escolas as mesmas quantidades e representatividades de antes, que em tempos atrás tinham em seus destaques moradores como passistas, baianas, ritmistas todos nasciam com o samba no pé desde criança. Esses espaços foram aos poucos sendo ocupados por aqueles que podem pagar ou que tem algum apelo de marketing maior em detrimento a esses mesmos moradores das favelas que nãor se cansavam em se doa integralmente pela agremiação carnavalesca a qual faziam parte. Atualmente usam apenas o nome das comunidade como forma de justificar que as escolas são das favelas, quando o embranquecimento e a elitização do carnaval é notório para qualquer um que assiste.

Conversando com alguns moradores antigos do morro observamos o quanto era valoroso para a comunidade realizar e participar dos preparativos das escolas de samba. Era algo que fazia parte do cotidiano diário de quem vivia na comunidade. As letras dos sambas e seus interpretes muitas vezes tinham a participação de moradores, assim como os participantes das alas, criadas com muita criatividade apesar do pouco recurso, que nem por isso deixava de ser algo bem feito e organizado. Imaginem como era prazeroso e de grande importância para cada morador participar da construção deste grande evento cultural que significava a representação de uma escola de samba e sua respectiva comunidade. Esse era o carnaval do povo para o povo, onde o que mais importava era ser parte de tudo com todos.

O Morro da Providência tem a sua importância cultural quando falamos de samba, foi um dos pioneiros do passo marcado, algo novo para as escolas de samba da época que não foi bem aceita pelas escolas inicialmente como houve alguns anos depois. O valor da comunidade no mundo do samba é medido por nós moradores pelo que já teve e o que ainda tem com relação ao samba no morro e em seu entorno, ou seja, criação de uma escola de samba< Vizinha Faladeira em 10 de dezembro de 1932, blocos carnavalescos como o Coração das meninas, sensação dos moradores na época, que tinha uma ala inteiramente para crianças; Eles que digam; Fala meu Louro e até mesmo o conjunto Nosso Samba, nascido na Providência. Mais recentemente tivemos o projeto Escola de percussão da Providência gerido pelo saudoso Sr Nélio de Oliveira, que ensinava percussão as crianças e adolescentes da comunidade com a passagem de mais de 800 alunos em mais 10 anos de projeto. Chegaram a fazer a abertura dos desfiles no sambódromo, na Marques de Sapucaí.

Onde foi parar o carnaval das escolas de samba realizado com a efetiva participação da favela?

A Providência é uma comunidade de tamanha importância e grande relevância no cenário histórico e cultural da cidade do Rio de Janeiro e merece toda valorização por esta riqueza..